Data: 24/02/2022

A população mundial cresce a cada dia e é estimado atingir 8,24 bilhões de pessoas em 2030 [1,2]. Com isso, o suprimento de alimento seguro e a custo acessível poderá ser um grande desafio para o mercado. O pescado é um dos grandes fornecedores de proteína e ômega 3 para a população [1]. Segundo a FAO [3], 67% de todo o pescado consumido é proveniente da aquicultura e a tilápia do Nilo é a segunda espécie de peixe mais cultivada [3] no mundo e a primeira no Brasil [4].

A utilização de rações com ingredientes de alta qualidade, com níveis adequados de nutrientes (proteínas, gorduras, vitaminas e minerais) que possam assegurar a condição nutricional e, com isso, manter a saúde, os níveis de produtividade e de desempenho dos animais, promovendo mais rentabilidade aos produtores é fundamental para que a produção de tilápias continue em ascensão.

A escolha adequada dos ingredientes para a formulação da nutrição dos animais é uma tarefa primordial ao zootecnista e/ou profissional responsável pela formulação. Atualmente, estão disponíveis no mercado diversos ingredientes altamente tecnológicos, voltados à produção de rações para tilápias. Com a escolha de ingredientes que possuem altos índices de digestibilidade, os formuladores aumentam a eficiência da ração, proporcionando a nutrição correta e mantendo a saúde animal.

Os hidrolisados proteicos, como Proteína Hidrolisada de Frango (PHF), Proteína Hidrolisada de Fígado de Frango (PHFF), Proteína Hidrolisada de Penas (PHP), apresentam aminoácidos altamente digestíveis, conforme coeficientes de digestibilidade determinados por dos Santos Cardoso, et al. 2021 [6], e a utilização desses ingredientes podem aumentar a performance das rações para as tilápias.

Ração

A ração é definida como o alimento fornecido aos animais, sejam eles domésticos ou de produção, para a manutenção nutricional. Animais de produção, como as tilápias, necessitam consumir uma ração com alto desempenho para atingir um potencial produtivo. A alimentação corresponde de 60 a 70% dos custos de produção animal. Desta forma, deve-se ainda atentar-se aos benefícios que ela oferece ao animal, desde as mais básicas necessidades como também ganhos de performance e saúde, como a melhoria no sistema imunológico e aumento no rendimento de filé.

As rações e a saúde animal na tilapicultura

Para otimizar a área de produção, a tilápia é cultivada em sistemas intensivos, com alta densidade de animais por metro cúbico dos tanques escavados e tanques-rede. Por isso, deve-se prestar atenção ao nível de estresse em relação aos aspectos alimentares, impactando na saúde dos animais e, consequentemente, na diminuição de produção, já que esse fator reflete diretamente nos índices zootécnicos como a conversão alimentar, ganho de peso e sobrevivência [7].

Na formulação de rações, conceitos importantes como hábito alimentar e exigência nutricional da espécie devem ser levados em conta para obter o melhor produto para cada fase do cultivo (larva, alevino e engorda) já que nas diferentes fases essa espécie apresenta necessidades específicas de nutrientes.

Um desses conceitos é a digestibilidade da ração, que está diretamente ligada à absorção dos nutrientes, saúde, crescimento e desenvolvimento dos animais. Além disso, dentro da aquicultura, a baixa digestibilidade também pode interferir na qualidade da água de cultivo, pois, os resíduos excretados se acumulam no ambiente de criação, proporcionando o crescimento de organismos indesejáveis como bactérias e aumentando a concentração de substâncias tóxicas como amônia, nitritos e nitratos, que diminuem a sanidade dos animais.

Teores adequados de proteína na formulação propiciam grandes benefícios, pois, além de proteger o corpo d'água, onde os peixes estão inseridos, favorece o bom funcionamento do organismo desses animais. Isso ocorre porque essas proteínas estão diretamente ligadas ao crescimento do músculo, assim como à formação de moléculas utilizadas no transporte de oxigênio, hormônios e proteção contra organismos patogênicos.

Outro fator importante que deve ser avaliado, além dos teores de proteína, gordura, vitaminas, macro e micro minerais que compõem as rações, é se a nutrição fornece condições de proteção em nível molecular, como fatores antioxidantes, pois, a presença de radicais livres em grandes quantidades traz grandes prejuízos à saúde dos animais.

Ingredientes funcionais para formulação de rações para tilápias

Com um mercado mais competitivo, o produtor tem que dispor de várias ferramentas para se destacar e conseguir manter a lucratividade. O tilapicultor não é diferente de outros produtores, tendo que utilizar das diversas ferramentas para cultivar a tilápia com o menor custo e conseguir maiores lucros, mantendo um alto nível de qualidade nas rações.

Rações com formulações que utilizam insumos desenvolvidos por processos altamente tecnológicos propiciam ao animal maior disponibilidade dos nutrientes. A BRF Ingredients [13] produz e comercializa diversos ingredientes que são altamente tecnológicos, entre eles os hidrolisados proteicos.

O processo de produção dos hidrolisados proteicos, através da hidrólise enzimática, modifica a matéria-prima utilizada e melhora seu valor nutricional, gerando um produto com alta qualidade proteica [10]. Tal característica da hidrólise permite que sejam gerados aminoácidos livres e peptídeos bioativos de cadeias menores, ou seja, com baixa massa molecular.

Esses peptídeos bioativos, como é relatado em um artigo científico publicado no Journal of Animal Science and Biotechnology [8], demonstram ação positiva no sistema imunológico dos animais, já que essas moléculas possuem as seguintes atividades: antioxidante, anti-inflamatória, atividade regulação da deposição de gorduras nas vísceras e outras funções.

Nos próximos parágrafos, será discorrido sobre alguns dos principais ingredientes funcionais, de alto teor proteico, que podem ser incorporados em rações para tilápias com a função de melhoria no desempenho zootécnico.

Proteínas Hidrolisadas

Para a produção da proteína hidrolisada, um dos mais importantes parâmetros a ser considerado é a fonte da proteína, pois, a natureza e a qualidade da matéria-prima utilizada podem impactar na reação de hidrólise, na qualidade e funcionalidade do produto final [11].

As principais fontes de matéria-prima para a produção de proteínas hidrolisadas são as eviscerações de suínos e aves, gerando produtos como a Proteína Hidrolisada de Frango (PHF), Proteína Hidrolisada de Penas (PHP) e Proteína Hidrolisada de Mucosa Suína (PHMS).

Proteína Hidrolisada de Frango

A Proteína Hidrolisada de Frango é preparada a partir de vísceras, miúdos e ainda da própria carne de frango. Para o preparo desse ingrediente, é utilizado o procedimento de hidrólise enzimática, que quebra os aminoácidos e os peptídeos em cadeias menores, com baixa massa molecular (100% abaixo de 3000Da), permitindo a fácil absorção pelo sistema digestório do animal.

Conforme estudo conduzido por dos Santos Cardoso, et. al, 2020 [6], este produto apresenta um alto teor proteico, acima de 75% e perfil de aminoácidos balanceados, ou seja, todos os aminoácidos essenciais em elevada quantidade. A PHF ainda proporciona uma alta digestibilidade in vivo, além de ser altamente palatável para a tilápia do Nilo [9].

Quando avaliado o desempenho dos animais alimentados com rações controle e rações enriquecidas com Proteína Hidrolisada de Frango, conforme estudo conduzido por Carvalho, et. al. 2020 [16], na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, verificou-se que a inclusão de PHF na ração melhora os índices zootécnicos de tilápias juvenis do Nilo, com destaque para o tamanho e peso (veja os valores de referência no estudo) quando comparado à ração sem adição do ingrediente.

Proteína Hidrolisada de Penas

As penas de frango contém elevado teor de proteína bruta. No entanto, essa proteína está na forma de queratina, uma substância de difícil digestão. Para melhorar a digestão desse produto é realizado um tratamento físico-químico por vapor para a hidrólise parcial da queratina. Mas, esse processo provoca a perda nutricional de aminoácidos essenciais, como metionina, lisina e triptofano. Para um melhor aproveitamento dessa proteína, pode ser utilizado o processo de hidrólise enzimática, procedimento realizado em condições mais brandas de pH e temperatura.

Dessa forma, é possível liberar aminoácidos e pequenos peptídeos sem que ocorra modificação molecular.

No processo de hidrólise por enzimas proteolíticas, a quebra da ligação peptídica independe do tamanho da cadeia peptídica do substrato, rompendo as ligações peptídicas dos aminoácidos terminais.

A Proteína Hidrolisada de Penas é um produto com alto teor proteico, apresentando o mínimo de 750 g kg-1 de proteína em relação à matéria seca. Tem como característica a presença de todos os aminoácidos essenciais em consideráveis quantidades, com destaque para os aminoácidos leucina, fenilamina e triptofano [16].

Proteína Hidrolisada de Mucosa Suína

A alta produtividade de suínos trouxe um grande desafio para a destinação adequada dos coprodutos da evisceração.

A definição de qualidade de um produto proteico está na base do seu perfil de aminoácidos, o que torna possível fornecer padrões de aminoácidos para o metabolismo proteico nas células animais, conforme pode ser medido pelo crescimento do animal [17].

Nesse sentido, a Proteína Hidrolisada de Mucosa Suína se enquadra perfeitamente, pois, tem excelente perfil aminoacídico, com a vantagem de o processo de hidrólise permitir a produção de peptídeos de baixa massa molecular, que podem ter a propriedade da bioatividade. Há melhorias ainda nos índices zootécnicos (especialmente tamanho). A alta palatabilidade é outra das características dignas de menção.

Conclusão

Para que uma ração formulada apresente maior potencial, é extremamente importante que ela ofereça resultados, principalmente na nutrição, desenvolvimento e saúde dos animais. Sendo assim, a escolha por ingredientes de excelente qualidade é fundamental.

Em um cenário de alta competitividade, investir na produção de rações altamente balanceadas, com ingredientes de alta digestibilidade e ainda com associação da palatabilidade, permite alcançar os objetivos desejados de aumento de produção e lucratividade.

Outro fator importante é manter-se atualizado às inovações tecnológicas do mercado de nutrição animal, para poder realizar possíveis substituições que agreguem valor nutricional à ração e ainda tragam redução aos custos de produção.

A escolha dos ingredientes corretos ou com as características mais adequadas para cada espécie impacta diretamente nos resultados, seja em termos de saúde do animal ou ainda em se tratando de características zootécnicas, como tamanho e peso. Portanto, comparar as vantagens e desvantagens entre todas as alternativas disponíveis é essencial para obtenção dos melhores resultados.

Referências